Ir. Douglas Turri, SJ
Em 27 de setembro de 1540, o Papa Paulo III aprovava oficialmente a Companhia de Jesus através da bula Regimini Militantis Ecclesiae. Um reconhecimento eclesial se revelava como a aurora de uma história que continua até hoje. Nascia uma nova ordem religiosa, fruto da intuição espiritual de Inácio de Loyola e de seus companheiros, que sonhavam em entregar suas vidas totalmente a Cristo e ao serviço da Igreja.
O sonho que se transformou em missão
Em 1534, em Montmartre, um grupo de estudantes liderados por Inácio havia feito votos de pobreza e castidade, sonhando em ir à Terra Santa para anunciar o Evangelho. Mas o caminho era impossível. Em vez de desanimar, os companheiros se dirigiram a Roma, oferecendo ao Papa sua vida para as missões que a Igreja mais necessitasse. Esse gesto de disponibilidade tornou-se a marca da Companhia de Jesus: estar sempre prontos a ser enviados.
Uma nova forma de vida religiosa
A Fórmula do Instituto, aprovada por Paulo III em 1539, já delineava algo profundamente original: uma ordem sem coro, sem clausura, aberta ao mundo. Os jesuítas seriam itinerantes, apostólicos, dispostos a ir a qualquer lugar, vivendo em pobreza, obediência e profunda comunhão com a Igreja. Em 1540, a bula papal confirmava esse estilo, limitando inicialmente o número de membros a 60. Nascia assim um modo novo de seguir Cristo, com um carisma profundamente missionário.
Uma história marcada por luzes e provações
A Companhia logo se expandiu para os quatro cantos do mundo. Missionários atravessaram oceanos, mergulharam em culturas, vestiram os trajes locais, aprenderam línguas e anunciaram o Evangelho nas fronteiras da fé. No campo da educação, os jesuítas fundaram escolas e universidades que marcaram gerações, contribuindo não apenas para a vida espiritual, mas também para a ciência, a filosofia, as artes e a cultura.
O dinamismo da Companhia gerou admiração, mas também incompreensão e oposição. Em 1773, após forte pressão política, a Companhia foi suprimida pelo Papa Clemente XIV. Mais de 23 mil jesuítas ficaram dispersos. Mas a chama não se apagou: na Rússia, onde o decreto não foi executado, a Companhia resistiu e manteve viva sua identidade. Em 1814, foi oficialmente restaurada pelo Papa Pio VII. Desde então, os jesuítas continuam a escrever páginas de serviço e entrega em todo o mundo.
A missão hoje
No século XX, a Companhia foi profundamente renovada pela liderança do Padre Pedro Arrupe, que recordou que a vocação jesuíta é inseparável de uma fé que promove a justiça. Hoje, sob a orientação do Padre Geral Arturo Sosa, seguimos guiados pelas Preferências Apostólicas Universais, que nos convidam a mostrar o caminho para Deus, caminhar com os excluídos, cuidar da Casa Comum e acompanhar os jovens na construção de um futuro cheio de esperança.
A eleição do Papa Francisco, o primeiro jesuíta a assumir o ministério petrino, é também um sinal da vitalidade desse carisma que, iniciado em 1540, continua a inspirar a Igreja e o mundo.
Um chamado vocacional
Celebrar o 27 de setembro é recordar um nascimento, mas também é afirmar um futuro. O carisma inaciano continua vivo em cada jovem que ousa perguntar: “Senhor, o que queres de mim?” A Companhia de Jesus só existirá amanhã se houver hoje corações dispostos a responder ao chamado de Deus. A missão não terminou; ela continua a se escrever no presente, em cada “sim” generoso, em cada vida entregue, em cada vocação que floresce.
Neste dia, damos graças pela história que começou há quase cinco séculos, mas sobretudo renovamos a esperança: a Companhia de Jesus segue nascendo em cada tempo, porque o mundo ainda precisa de homens e mulheres que, como Inácio e seus companheiros, se deixem mover pelo amor de Cristo e se disponham a servir “para a maior glória de Deus”.







