JUVENTUDES E ENSINO MÉDIO: EXPERIÊNCIAS, PROJETO DE VIDA E FORMAÇÃO CIDADà

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Wagner Scopel Falcão

Minha escolha por cursar licenciatura em Geografia – minha primeira graduação – surgiu apenas no final do ensino médio. Na verdade, minha primeira lembrança de curso desejado foi Jornalismo. Esse interesse apareceu no 1º ano do ensino médio, em uma escola pública estadual no município de Guarapari – ES, onde eu residia na época. A vontade nasceu ao assistir a uma novela cuja trama se passava, em parte, dentro da redação de um canal de comunicação. Talvez por causa da minha timidez, o projeto não avançou. 

No ano seguinte, já no 2º ano, despertou em mim o desejo de cursar Educação Física. Acredito que por gostar de esportes — de jogar (mesmo não sendo bom, rs) e de assistir na televisão. Contudo, descartei essa opção, pois, à época, o ingresso no ensino superior público se dava por meio de vestibular com primeira e segunda fases. Para Educação Física, a segunda fase incluía provas de História, Biologia e Redação. Como eu considerava Biologia muito difícil, acreditava que não conseguiria boas notas e teria dificuldades em ser aprovado. 

Cheguei, então, ao 3º e último ano do ensino médio. Foi um período de transição, pois me mudei de Guarapari para o município da Serra – ES, em razão do trabalho do meu pai. Ao chegar, consegui uma bolsa parcial em uma escola privada para cursar o 3º ano integrado ao pré-vestibular. Nessa escola, tive ótimos professores de Geografia, que ministravam aulas no estilo “show” dos antigos pré-vestibulares: expositivas, engraçadas, repletas de piadas, capazes de encantar as juventudes da época. Tentei o vestibular pela primeira vez e não obtive êxito, mas no ano seguinte, na segunda tentativa, fui aprovado em Geografia na Universidade Federal do Espírito Santo, onde iniciei a graduação em 2005 e concluí em 2008. 

Na mesma época, também por necessidade de inserção acadêmica e profissional, participei do processo seletivo para o curso de Eletrotécnica do Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (Cefetes), atual Instituto Federal do Espírito Santo. Fui aprovado e cursei um ano, mas não dei continuidade, pois, nesse período, também ingressei em Geografia e acabei optando em focar na graduação. 

Essa é uma breve trajetória da escolha profissional do atual professor Wagner pela licenciatura. A escolha de um projeto de vida, como pressupõe a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018), é única, é individual, e deve ser construída ao longo da vida, cabendo à escola auxiliar os jovens nesse processo. No ensino médio, carreira, presente e futuro precisam estar presentes nas atividades escolares. Contudo, não se trata de pressionar o jovem a buscar sucesso, dinheiro e felicidade — discursos frequentemente reforçados pelas redes sociais. Uma das funções da escola é formar cidadãos, o que significa proporcionar aos estudantes uma visão crítica do mundo, possibilitando leituras e releituras da sociedade, de modo a se colocarem como protagonistas conscientes do mundo em que vivem. 

Segundo Borges (2001, p. 10), “[…] o caminho rumo à construção de uma cidadania plena não significa ajustar o aluno ao meio em que vive, pois é preciso não apenas conhecer este meio, mas exercitar a crítica sobre o que acontece e reconhecer possibilidades alternativas para os objetivos que se quer alcançar”. Essa crítica deve ser exercida não só sobre o mundo, mas também sobre si mesmo, refletindo sobre como cada um se coloca na sociedade, que, por sua vez, precisa ser compreendida em diferentes escalas — do local ao global — que se interrelacionam cotidianamente. Essa é uma das funções sociais da escola e compete a todos os seus atores — profissionais da educação, estudantes, comunidade e famílias — atuar nesse sentido. 

No ensino médio, em especial, é importante promovermos o protagonismo das juventudes. Eu atuo como professor desde 2007: lecionei Geografia no ensino fundamental e no ensino médio, fui professor de ensino superior e pré-vestibular, coordenador escolar e pedagogo. Em todas essas funções, a etapa com que mais me identifiquei foi a do ensino médio. Talvez justamente por ser um momento de transição da infância para a vida adulta — período de experiências intensas e conexões com o mundo — meu trabalho parecia ganhar mais sentido. Reconheço, no entanto, que todas as etapas do ensino têm a mesma importância; trata-se apenas de uma afinidade pessoal. 

Com as juventudes, especialmente com os adolescentes, aprendi que o primeiro passo é escutá-los. Escuta ativa não significa concordar, mas acolher. O termo “juventudes”, no plural, conforme adotado pela BNCC e pela Rede Inaciana de Juventudes – MAGIS Brasil, reforça a pluralidade que atravessa o ensino médio. Infelizmente, em muitas escolas ainda prevalece o modelo massificado, padronizado, no qual jovens permanecem enfileirados, voltados para o quadro, enquanto o professor oraliza durante um tempo pré-determinado para todos de uma única forma. 

Eu, Wagner, não me arrependo das escolhas acadêmicas e profissionais que fiz. Mas talvez, se durante meu processo de escolarização tivessem sido trabalhados aspectos como projeto de vida, trilhas acadêmicas e mundo do trabalho, meu percurso poderia ter sido diferente. Não me refiro necessariamente à escolha do curso, mas aos caminhos percorridos. Mais do que preparar para o futuro, a escola precisa acolher, compreender, dialogar — e não reprimir ou excluir. É necessário romper com o modelo que promove apagamentos. 

Não digo que seja fácil ou simples, mas defendo uma escola que desenvolva aulas, projetos e ações capazes de fortalecer as juventudes e suas pluralidades; que possibilite compreender criticamente o mundo e que trabalhe em prol da formação cidadã. As disciplinas escolares presentes no currículo nacional, assim como o trabalho escolar em sua totalidade, são fundamentais para desenvolver o protagonismo das nossas juventudes. 

REFERÊNCIAS: 

BORGES, Vilmar José. Mapeando a geografia escolar: identidades, saberes e práticas. 2001. 130 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Mestrado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001. 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Acesso em: 5 set. 2025. 

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