Raylson Araújo fala sobre o Jubileu dos Jovens, missão digital e os desafios da evangelização com juventudes no Brasil
Por Guilherme Freitas
Entre os dias 3 e 6 de setembro, jovens de todo o Brasil se encontrarão no Santuário Nacional de Aparecida para celebrar o Jubileu dos Jovens . O evento integra o Ano Jubilar da Igreja no Brasil e promete ser um momento de comunhão, escuta e envio missionário da juventude, especialmente em tempos de tantos desafios sociais, espirituais e culturais.
A Igreja vive hoje o desafio de acompanhar os jovens nas diferentes realidades em que estão inseridos, incluindo o ambiente digital. Nessa missão, a atuação de jovens protagonistas, que unem fé, escuta e criatividade, é fundamental. Um desses nomes é Raylson Araújo, leigo, teólogo e missionário digital, que tem contribuído diretamente na formação de catequistas e na construção de espaços e processos evangelizadores com e entre juventudes, tanto no presencial quanto no online.
Raylson é colaborador da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB e integra a Articulação Pastoral Digital da CNBB. Conversamos com ele sobre o Jubileu, o papel da juventude na Igreja e os caminhos que se abrem para a missão neste tempo de esperança e transformação.
MAGIS Brasil: Raylson, para começarmos, gostaríamos que você se apresentasse. Quem é você, de onde vem e como se deu sua caminhada na missão com as juventudes na Igreja do Brasil?
Raylson Araújo: Sou natural de Garanhuns, no agreste pernambucano, mas radicado em São Paulo. Desde pequeno na Igreja, em específico na Paróquia São José Operário, no Capão Redondo, Zona Sul da capital. Comecei servindo como coroinha, assumindo as formações dos demais, depois me tornei catequista de jovens e adolescentes e comecei a servir no movimento jovem do TLC, que foi fundado pelo padre Haroldo Rahm, um jesuíta norte-americano que chegou ao Brasil na década de 60. Foi com o movimento que comecei a viajar para outras cidades e dioceses, conhecendo outras realidades juvenis do Brasil.
MAGIS Brasil: Você atua com juventude em diversas frentes — como teólogo, formador, pregador e comunicador. A partir dessa vivência, como você enxerga os desafios e as potências da evangelização da juventude hoje no Brasil? Que caminhos têm se mostrado férteis?
Raylson Araújo: O Brasil é um país enorme, populoso e, consequentemente, tem uma realidade muito significativa de jovens nas comunidades católicas e cristãs em geral. É um sinal positivo e um cenário que é animador, mas, ao mesmo tempo, desafiador. Temos uma dificuldade — e isso é visto em diversas regiões — de formar um discipulado juvenil. O binômio discípulo-missionário, como lembravam os bispos na Conferência de Aparecida, em 2007, ainda não se efetivou do modo esperado. Os jovens estão presentes, participam, consomem, mas há uma dificuldade em alguns lugares para formar para a comunhão local. Por outro lado, é inegável a sensibilidade e o desejo que muitos possuem pela santidade.
MAGIS Brasil: Entre os dias 3 e 6 de setembro, milhares de jovens de todas as regiões do país se encontrarão no Santuário Nacional de Aparecida para celebrar o Jubileu dos Jovens. O que esse momento representa para você e que apelos ele traz à missão da Igreja com e entre as juventudes?
Raylson Araújo: Penso que é oportuno recordar as palavras de Francisco durante a JMJ de 2019, no Panamá: “os jovens são o agora de Deus”. Aqui conecto com Esperança enquanto virtude teologal, isto é, não algo para o futuro, mas para o já. O Jubileu é uma celebração, então significa contemplar e celebrar a Igreja viva, pulsante e jovem do Brasil, fruto de muitos santos, reconhecidos ou ainda não reconhecidos pela Igreja, que semearam desde lá atrás e, também por isso, aqui estamos.
MAGIS Brasil: O Jubileu contará com atividades como o Encontro Nacional de Lideranças Jovens, o Seminário de Comunicação (RISE UP) e a Romaria Nacional da Juventude. Que dimensões da experiência juvenil você vê representadas nessa programação? Que frutos podemos esperar de um encontro como esse?
Raylson Araújo: Vivemos um tempo no qual as mudanças acontecem muito mais rápido que décadas atrás. Também por isso a Igreja do Brasil, através da Comissão Episcopal Juvenil, vem neste processo de atualização do Documento 85, publicado em 2007. Estes dias que antecedem o Jubileu serão importantes para que as lideranças juvenis dos quatro cantos do país possam conhecer e aprofundar os principais pontos trabalhados nesta atualização. Além disso, temos a realidade da evangelização digital e das novas tecnologias, cada vez mais despertando a atenção e a curiosidade dos jovens. O seminário de jovens comunicadores vem para ajudar nesta realidade “onlife”, para citar o Rumo à presença plena, documento do Dicastério para a Comunicação.
MAGIS Brasil: O lema do Jubileu, “Peregrinos da Esperança”, fala de uma juventude que caminha, sonha e resiste. O que significa ser um jovem peregrino da esperança no Brasil de hoje? Como a Igreja pode fortalecer esse caminho?
Raylson Araújo: Esperança é o remédio contra o medo, a mesmice e o desespero. Falar de esperança é necessário, porém, mais que isso, é preciso de testemunhos de esperança. Por isso, os jovens que fizeram uma experiência com Jesus precisam comunicar e testemunhar, para que os demais possam ser iluminados por Aquele que é “caminho, verdade e vida”. Vivemos um tempo de crise, incertezas sobre o futuro e instabilidade econômica. Daí a necessidade dos testemunhos de Esperança, e a responsabilidade daqueles que fazem parte da Igreja. Afinal, se os seguidores de Jesus não forem esperançosos, quem será?
MAGIS Brasil: Você também atua como missionário digital. Como a missão no ambiente online pode contribuir para esse despertar da fé, da escuta e do engajamento dos jovens? Que cuidados são importantes nesse campo para não esvaziar o conteúdo da mensagem?
Raylson Araújo: O ambiente digital é um campo de missão enorme, mas como qualquer outro, exige prudência e discernimento. Para quem está exercendo a missão, vale lembrar que as palavras precisam ser acompanhadas do testemunho e que se esteja atento para que não se caia na autorreferencialidade, como tantas vezes exortava o saudoso Papa Francisco. Para quem acompanha, que não se esqueça que se é Igreja através do encontro, isto é, da vida de comunhão, real e concreta. Não existe Igreja online. Logo, que a missão digital seja extensão do real e que aquilo que aprendemos no virtual seja levado adiante no testemunho do dia a dia.
MAGIS Brasil: Por fim, que mensagem você gostaria de deixar aos jovens que se preparam para viver o Jubileu e desejam seguir firmes na missão de testemunhar Jesus com coragem, criatividade e esperança?
Raylson Araújo: Jubileu é tempo de reconciliação: com Deus, com a nossa consciência e com os irmãos. Mergulhemos na misericórdia de Deus, renovemos nossa Esperança e que possamos testemunhar, com ousadia e alegria, a mensagem transformadora do Evangelho, superando qualquer tentação de competição e divisão. A Igreja e o mundo precisam de testemunhos de esperança e unidade.
A reflexão de Raylson Araújo reforça o valor do protagonismo juvenil na vida da Igreja e aponta caminhos possíveis para uma missão mais próxima, encarnada e coerente com os anseios da juventude. Seja nas comunidades locais ou nos ambientes digitais, o testemunho de esperança, unidade e fé autêntica é uma resposta necessária aos desafios do tempo presente.
Em sintonia com o espírito do Jubileu e com a missão da Rede Inaciana de Juventude, o MAGIS Brasil segue comprometido em fortalecer experiências que promovam o encontro, a escuta e o envio missionário das juventudes. Que essa caminhada jubilar seja também oportunidade de renovar o desejo de ser mais com os demais, sem medo de anunciar com coragem e alegria o Evangelho de Jesus Cristo.








