Vocação: alargar o horizonte do desejo

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Pe. Pedro Rocha Mendes, sj (publicado no site pontosj.pt)

Antes de tudo, uma cultura de promoção vocacional ajuda a desfazer enganos sobre o que realmente realiza as aspirações de cada pessoa. Conduzir alguém à escolha de Jesus é ajudá-la a encontrar o significado mais profundo da sua humanidade.

Há alguns anos, o tema que inspirou a vida dos Colégios da Companhia de Jesus em Portugal e Espanha surpreendeu a muitos: “Escolher para sonhar”. Mas, então, não deveria ser o contrário: sonhar para escolher?

A proposta se baseava na “Meditação das duas bandeiras” dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e partia de um pressuposto: qualquer sonho que se pretenda cristão precisa de uma escolha prévia — a escolha de Jesus e seu modo de ser. Um modo que passa pela pobreza, desprezo e humildade. Superficialmente, essa proposta pode parecer contraintuitiva e pouco atraente. Contudo, as promessas de honra baseadas na vaidade, num orgulho autossuficiente e em autoestimas frágeis e cheias de brilho, apenas aumentam uma sede sem caminho claro que leve à verdadeira fonte.

É por isso que o apelo do Geral da Companhia de Jesus, P. Arturo Sosa, numa carta recente sobre a promoção vocacional enviada a todos os jesuítas, faz tanto sentido: “Em um mundo cada vez mais secularizado, onde a tentação de riquezas, honra e orgulho distrai tão facilmente os jovens e obscurece a voz suave e delicada de Deus, a sensibilidade oferecida pela cultura de promoção e discernimento vocacional torna-se vital.”

Antes de tudo, essa cultura de promoção vocacional ajuda a desfazer ilusões sobre o que realmente realiza as aspirações de cada pessoa. Levar cada um à escolha de Jesus é oferecer a possibilidade de encontrar, na gratuidade e no serviço, um caminho de amor livre que recusa a manipulação, onde é gerada a abundância.

Uma cultura de promoção vocacional desafia a secularização do coração e acende as perguntas mais sérias da vida: qual o significado da verdadeira amizade, como aprender a lidar com a desilusão, como enfrentar a morte, como amar sem esperar que o outro preencha nossos vazios, como se sentir reconhecido e amado sem precisar mentir para si mesmo sobre suas capacidades e limitações? Como lidar com nossas feridas? Como cuidar dos outros e buscar justiça? Como encontrar as maiores alegrias? É aqui que a bandeira de Jesus se apresenta como uma proposta de conversão de nossa sensibilidade, ampliando nosso horizonte e fortalecendo nossos afetos.

Neste domingo, iniciamos a semana de oração pelas vocações. Rezar pelas vocações não é expressar a Deus um desejo quase melancólico para que a Igreja não morra. É sintonizar-se com a abertura daqueles que buscam escutar o chamado de Deus.

Esse é um caminho lento que exige mais laços sólidos do que conexões infinitas e instantâneas. Um caminho que exige disponibilidade. Na carta sobre promoção vocacional, Arturo Sosa se dirige especialmente a seus irmãos jesuítas: “No centro desse esforço, recebemos a graça da arte de acompanhar na escuta do chamado do Senhor e no discernimento do seu caminho. É o Senhor quem chama, mas aqueles que o escutam precisam de acompanhamento no processo de acolhimento desse chamado.”

O acompanhamento de quem busca acertar-se com a vontade de Deus é essencial para a descoberta da vocação cristã. É uma arte que nem todos dominam, mas é uma responsabilidade de todos: ajudar a criar comunidades em que cada pessoa possa descobrir seu valor a partir da experiência de ser amada por Deus; comunidades nas quais cada um reconheça que responder ao amor incondicional significa aprofundar o sentido de pertencimento à humanidade comum, a uma comunidade na qual todos somos chamados a servir. Nesse contexto, suscitar a pergunta pelo sentido da vida é bem mais que uma tarefa de padres e freiras.

Neste domingo, iniciamos a semana de oração pelas vocações. Rezar pelas vocações não é expressar a Deus um desejo quase melancólico de que a Igreja não morra, mas alinhar-se com a abertura dos que buscam escutar o chamado de Deus. É abrir-se à mudança que o Espírito opera em nós, compreendendo a conversão a que somos chamados. É tornar-se mais sensível aos apelos que Deus pode estar suscitando no coração dos que estão ao nosso redor. O Geral dos jesuítas afirma que a oração nos transforma “alargando e aprofundando nosso desejo e nos colocando em maior sintonia com aqueles que o Senhor pode estar chamando à nossa volta”.

No filme “Piratas do Caribe”, havia uma bússola que não apontava o Norte, mas sim aquilo que quem a segurava mais desejava. Escolher Jesus é dar ao nosso desejo o maior dos horizontes, encontrando sonhos surpreendentes que revelam quem somos e o que somos chamados a ser. Rezar pelas vocações é comprometer-se com esse modo de escolher e de sonhar.

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