A dolorosa ferida do medo

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“Quem for medroso e tímido volte para trás” (Jz 7,3)

Chegamos à pós-modernidade com uma enorme carga de medo. Somos atormentados o tempo todo pelo medo, um medo sem nome, um fantasma sem rosto, escuro como uma sombra e rápido como uma tempestade. Medo cruel que afeta os corajosos e agride os ousados. Não existe depósito de munição mais potencialmente explosivo do que os estoques de medo guardados nas escuras profundezas do ser humano. Há um verdadeiro pânico permanente envolvendo pessoas, grupos e instituições.

No medo, as pessoas encaram os outros como inimigos, e as oportunidades como ameaças. A vida é um campo de batalha. Uma longa cadeia de medos, da primeira à última respiração, nos ameaça nesta terra de sombras. Diferentes medos congelam nossas relações, atormentam nossa vida, quebram nossa serenidade, obscurecem o nosso próprio ser, matam nossos sonhos e intuições: medo do fracasso, da velhice, medo de mudanças, medo de decidir, medo de não corresponder às expectativas dos outros, medo de perder o emprego, medo de se comprometer, medo da situação social-econômica, medo da violência, medo do diferente, medo do vazio, medo do outro, medo da solidão, medo do novo, medo de viver e de morrer, medo de dizer a verdade  (dá medo porque também se tem medo da verdade), medo do futuro. Há um medo silencioso que se manifesta na falta de sentido da vida: o medo que abala as razões para viver. Nada mais terrível do que ter medo de tudo. Com medos é insuportável viver.

O medo deixa as pessoas vulneráveis à manipulação

Grandes medos não aparecem com frequência. São os pequenos medos que surgem dos encontros diários com a realidade e roubam da pessoa sua vitalidade e dinamismo. O medo inibe o pensamento, impede a concentração e é, portanto, muito responsável por se fazer as coisas de modo medíocre, sem valor, abaixo das possibilidades e contra as próprias expectativas.

O medo não é um ato moral nem uma omissão. Sem ser convidado, ele cresce no coração humano. Em tal atmosfera de medo, a imaginação e todas as energias criativas se atrofiam.

O medo é um câncer que ameaça à fé, ao amor e à esperança de pessoas e instituições. Ele corrói as fibras humanas, asfixia talentos, esvazia a vida e mata a criatividade. O medo encolhe o ser humano, inibe a decisão e bloqueia os movimentos em direção ao “mais”. Sua intensidade pode anular a capacidade de reação das pessoas ou das instituições. Ele impede o discernimento e a busca da solução mais inteligente para os problemas. Longe de resolvê-los, pode agravá-los a médio e longo prazo.

Esses vários medos tiram o brilho tão próprio do amor e seca as fontes da esperança, ele nos acovarda e nos enterra na acomodação mesquinha. Estamos condenados, como pessoas e como instituição, a viver no medo?

O medo obscurece o sentido e a direção da vida

Do coração amoroso e maternal-paternal de Deus brota este convite: “Não tenhais medo”. Um convite com força libertadora, é a força da Graça de Deus que alavanca o passo para a frente: o passo da mudança, o passo da audácia de sonhar de novo, o passo do trabalho criativo. As batalhas mais profundas do espírito se conquistam com o atrevimento da coragem, com a força da fé, com a imaginação solta, com a criatividade livre e desimpedida.

É preciso rastrear, identificar, compreender e exilar os medos de nossos corações. É urgente substituir a cultura do medo pela cultura da coragem. A coragem desbloqueia energias, impulsiona decisões, levanta projetos, reacende a criatividade e o gosto por viver. Só assim poderemos trabalhar em liberdade e viver na alegria, recuperar a confiança no Deus que nos olha com ternura, viver a partir do amor que afasta todos os medos. De fato “no amor não existe medo, pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, quem sente medo ainda não está realizado no amor” (1Jo 4,18).

Sem a superação cotidiana desse medo, nossa missão estará comprometida, perderá sua força inovadora, garantida pela novidade do Projeto de Deus. O compromisso com o Reino requer de todos uma forte dose de coragem e uma alma ágil, animada e vivificada pelo sabor da aventura e da novidade.

Vencido o medo, nós nos tornaremos autênticos, criativos e audazes seguidores de Jesus.

Texto Bíblico Mt 14,22-33 / Mt 25,14-30

 

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